Amarílis Corrêa

Amarílis Corrêa

Last updated on 3 November 2021

Amarílis Corrêa is an Academic Librarian and Researcher on digital preservation in São Paulo, Brazil / Amarílis Corrêa, Bibliotecária acadêmica e pesquisadora em preservação digital


[PORTUGUESE FOLLOWS]

For some of us, there seems to be no barriers to digital preservation; for others, too many. Is the grass always greener on the other side of the fence? For me it is, considering I haven’t had the opportunity to implement any part of the digital preservation process in the institution where I work.

This year’s theme of the World Digital Preservation Day is riveting and I hope we can keep it on the agenda alongside all the other relevant topics. As there are no barriers to blogging for DPC, I will approach three barriers, share some of my experience, as well as bring up some thoughts on the practice of digital preservation in Brazil.

Most of the best Brazilian academic institutions are public, managed by federal or state government. They are prestigious universities – responsible for the most important researches and development in the country – recognised by their academic achievements. In the QS Latin America University Rankings 2021, for example, three of the top 10 are Brazilian public universities. Even so, over the past years, the endowment to research, to professional development of the technical staff, and improvement in facilities and technological infrastructure has been decreasing, just like investments to preserve cultural and scientific heritages. In Brazil, digital preservation is, or seems to be, unknown by most of the administrative staff, decision makers, stakeholders and even for some of my peers. They can only be assuming that the importance of the continuous process of safeguarding digital assets – and the impact of its loss – for our generation and future ones is irrelevant. It’s almost like if digital objects would survive on their own like manuscripts did. Anyway, it’s not all lost, we have few excellent examples of institutional commitment to digital heritage in Brazil.

Despite facing different situations to implement digital preservation in each country, I believe there is a common challenge: many of us probably advocate for digital preservation on a regular basis, no matter how advanced is our expertise. After all, it’s a constant evolving process, isn’t it? Continuous development of skills, and the support of the digital preservation community are critical to keep feeding professionals around the world with the basics, latest tools and the newest good practices, sharing what works and what doesn’t work – sometimes this part is what we share less, even if it is as valuable as any achievement. What’s the responsibility of those that have solid experience in digital preservation? Every day we might have newcomers that don’t know how to get started, especially if they aren’t in the most favourable environment; that is, having at their disposal the conditions to implement, at least, some of the preservation actions, either being in a big or small institution, public or private. It’s important to open our technical and political strategies as much as possible in order to help others find the way.

It’s easier to know who to talk to in case of great doubt, where to look for good practice guides, and whose work to follow when we broaden our network. Having international contacts is essential, but to do so we must have language skills. Obviously, English breaks a few communication barriers, but it is not accessible to everyone. How can we balance or overcome this barrier? How can we provide access to documentation, guides, trainings, conferences, etc.?

Recently, two important guides, originally written in English, were translated to Portuguese: Understanding PREMIS and The DPC Rapid Assessment Model (RAM). Those were voluntary works that demanded commitment, sometimes difficult to combine with job assignments, still, worth the effort because the final result is certainly valuable. There are other resources to support good practices and professional development that should be available in other languages, not only English, and publications to come should be available in different languages right at the first release, so that more practitioners would benefit immediately. Isn’t it possible to also make conferences and trainings more accessible?

Now, I’m no longer working remotely and I already miss the flexibility to travel right from my desk, to get to know new colleagues and meet the “old” ones, who are always open to share their expertise. Just the same, it’s the moment to start doing some trials and practicing what I learned in a surprisingly enriching year, despite the devastating pandemic.

When I finished Novice to Know-How, I felt confident to do hands-on work (I still think digital preservation is a complex process and I know it must be conducted by a multiskilled team), I understood how to begin, and that it might be useful to have a preservation project in standby for the moment when the institution decides to invest in digital preservation. It was inspiring to adopt the principle that “anything is better than nothing”. Since my masters degree, I have been on the theoretical field, as I usually say, having full knowledge of the theory and good practices, but not being able to experiment.

I understand 2020 as my introduction to the wider community of digital preservation with lasting connections, enjoyable gatherings and a refreshed enthusiasm to carry on my studies and to start practicing. I expect the digital preservation community can resume as soon and as safe as possible the on-site conferences, and at the same time manage to keep offering some online opportunities to reduce the geographical barriers, hopefully not returning to only local international events. Even if one would have the means to travel limitlessly, it would be impracticable to attend every interesting event. In the end, what happened during 2020 gathered us all somehow.

I kindly thank the DPC team for the invitation to blog and for being as open as possible for those whose institution is not a member of the coalition.

I hope we can keep connecting and sharing! And I hope that we keep breaking down the barriers to digital preservation!


Considerações sobre as barreiras à prática de preservação digital

Para alguns de nós parece não haver barreiras para a preservação digital, para outros, parece haver muitas. A grama do vizinho parece sempre mais verde? Para mim, sim, considerando que ainda não tive a oportunidade de implementar nenhuma etapa do processo de preservação digital na instituição onde trabalho.

O tema deste ano para o Dia Mundial da Preservação Digital é instigante e eu espero que possamos mantê-lo na pauta de discussões com os demais assuntos relevantes para a área. Como não existem restrições para escrever para a DPC, abordarei três barreiras, compartilharei algumas de minhas experiências e mencionarei alguns aspectos sobre a prática de preservação digital no Brasil.

As melhores instituições acadêmicas brasileiras são públicas, geridas pelo governo federal ou pelos governos estaduais. Elas são universidades prestigiadas – responsáveis pelas pesquisas mais importantes e pelo desenvolvimento nacional – reconhecidas por suas produções. No QS Latin America University Rankings 2021, por exemplo, três das dez melhores universidades são instituições públicas brasileiras. Mesmo assim, ao longo dos últimos anos, tem-se diminuído o investimento em pesquisa, desenvolvimento profissional do corpo técnico e o aprimoramento de instalações e infraestrutura tecnológica, assim como o investimento para preservar os patrimônios cultural e científico. No Brasil, a preservação digital é, ou parece ser, desconhecida pela maioria das equipes administrativas, tomadores de decisão, stakeholders e até mesmo por alguns colegas de profissão. Esses agentes parecem considerar irrelevante a importância do processo contínuo de salvaguarda de bens digitais e o impacto de sua perda para a nossa geração e as futuras. É quase como se os objetos digitais sobrevivessem por conta própria, como os manuscritos. De toda forma, nem tudo está perdido, pois existem no país alguns exemplos excelentes de compromisso institucional com o patrimônio digital.

Apesar dos profissionais enfrentarem diferentes situações para implementar a preservação digital em seus países, acredito que temos um desafio em comum: muitos de nós temos que defendê-la com frequência, independentemente do quão avançada seja nossa experiência. Afinal, trata-se de um processo em constante evolução, não é mesmo? O desenvolvimento contínuo de habilidades e o apoio da comunidade de preservação digital são imprescindíveis para manter os profissionais de todo o mundo providos do básico, de ferramentas mais recentes e de novas boas práticas, compartilhando o que funciona e o que não funciona – às vezes, essa é a parte que menos divulgamos, mesmo que seja tão valiosa quanto qualquer resultado positivo. Qual é a responsabilidade daqueles que têm uma experiência sólida no processo de preservação digital? Todos os dias podemos ter recém-chegados que não sabem por onde começar, especialmente se não estiverem em um contexto institucional favorável, ou seja, sem ter à disposição as condições para implementar um mínimo de ações de preservação, estejam em uma instituição grande ou pequena, pública ou privada. É importante compartilhar o máximo possível de nossas estratégias técnicas e políticas para ajudar outros a encontrar o caminho.

É mais fácil saber com quem conversar em caso de uma grande dúvida, onde procurar guias de boas práticas e o trabalho de quem devemos seguir quando ampliamos nossa rede de contatos. Ter contatos internacionais é essencial, mas para isso precisamos nos comunicar em outros idiomas. Obviamente, o inglês rompe algumas barreiras de comunicação, no entanto não é acessível a todos. Como podemos diminuir essa barreira? Como podemos facilitar o acesso a documentações, guias, cursos de capacitação, eventos, etc.? Recentemente, dois guias importantes, produzidos originalmente em inglês, foram traduzidos para o português: Entendendo o PREMIS e Modelo de Avaliação Rápida da Coalizão de Preservação Digital (DPC RAM). São trabalhos voluntários que exigem comprometimento, às vezes difícil de conciliar com as demandas profissionais; ainda assim, são esforços válidos porque o resultado final é certamente significativo. Existem outros recursos sobre boas práticas e desenvolvimento profissional que deveriam estar disponíveis em outros idiomas, não apenas em inglês, e novas publicações já deveriam ser lançadas em diferentes idiomas, pois assim mais profissionais se beneficiariam imediatamente. Não seria possível também tornar as conferências e os treinamentos mais acessíveis?

Em 2020, enfrentamos momentos difíceis, mas também tivemos muitas oportunidades interessantes para nos reunir como nunca antes, uma vez que usamos a tecnologia para estar em qualquer lugar do mundo em questão de segundos. Quando nos vimos trancados em casa, encontramos alternativas para continuar com atividades e novas formas de nos conectar. Participar de conferências e workshops foi fácil (se você tivesse boa conexão com a internet e habilidades para se comunicar em língua estrangeira). Parecia haver mais eventos do que era possível acompanhar; em certo momento chegou a ser pesado ter acesso a tanta informação e saber de tantos eventos interessantes ao mesmo tempo. Eu tinha acabado de descobrir o Twitter como uma plataforma produtiva para me conectar com colegas e especialistas, ler as reflexões sobre suas práticas, preservação digital e temas relacionados, seguir pedidos de sugestões e contribuições para projetos em andamento. Busco estar atenta às tendências e às práticas recomendadas para preservação digital, por isso aproveitei ao máximo todas as oportunidades para ouvir profissionais de todo o mundo falarem sobre sua experiência. Gostei também de participar das sessões #DPConnect para um "bate-papo animado e leve", como descreve Sarah Middleton. A comunidade de preservação digital é muito acolhedora e acredito ter criado uma rede proveitosa.

Agora, não estou mais trabalhando remotamente e já sinto falta da flexibilidade de viajar direto da minha mesa, de conhecer novos colegas e encontrar os antigos, que estão sempre abertos a compartilhar seus conhecimentos. Mesmo assim, é hora de começar a fazer alguns testes e praticar o que aprendi em um ano surpreendentemente enriquecedor, apesar da pandemia devastadora.

Quando eu terminei o curso Novice to Know-How senti confiança para começar a praticar (ainda acho que a preservação digital é um processo complexo e sei que deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar), entendi como começar e que pode ser útil ter um projeto de preservação guardado para o momento em que a instituição decidir investir em preservação digital. Foi inspirador adotar o lema de que "alguma prática é melhor do que nenhuma". Desde o meu mestrado, estou no campo teórico, como costumo dizer, tendo pleno conhecimento da teoria e das boas práticas, mas não podendo experimentar.

Entendo 2020 como meu ingresso à comunidade mais ampla de preservação digital e com conexões duradouras, encontros agradáveis e o entusiasmo revigorado para continuar meus estudos e começar a praticar. Espero que em breve a comunidade possa retomar os eventos presenciais de maneira segura, e, ao mesmo tempo, consiga continuar oferecendo algumas oportunidades online para driblar as barreiras geográficas, para que não retornemos apenas aos eventos internacionais locais. Mesmo que alguém tivesse os meios para viajar ilimitadamente, seria inviável participar de todos os eventos interessantes. No final, o que aconteceu durante 2020 nos uniu de alguma forma.

Agradeço gentilmente à equipe da DPC pelo convite para escrever e por atuar da maneira mais aberta possível para incluir aqueles cuja instituição não é membro da coalizão.

Que possamos continuar nos conectando e compartilhando! E que continuemos quebrando as barreiras à preservação digital! 


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